Trabalho O segredo da escola velha
CAPÍTULO 1 – O que os olhos não veem
Naquela
manhã nublada, duas cadeiras estavam vazias na sala da professora Elisabeth.
Reinaldo
— o famoso Pitoco Aranha — e Victor Guilherme haviam desaparecido sem aviso.
—
Professora... acho que eles pularam o muro — cochichou Yuri, nervoso. — Foram
pra escola velha.
A
construção abandonada ao lado da escola era um prédio esquecido, cercado
de histórias esquisitas que ninguém confirmava. Alguns falavam em incêndio,
outros em fantasmas. Sem perder tempo, Elisabeth deixou a sala. No caminho,
cruzou com Michael, ofegante.
—
Eu vi... eles entraram lá. Fui atrás pra ver se tava tudo certo.
O
portão da escola antiga estava entreaberto. Folhas secas cobriam o chão. O
cheiro de mofo e madeira velha pairava no ar. Ela entrou, sentindo um arrepio. Minutos
depois, mais alunos apareceram: Pedro Felipe, Andreza, Luana, Marcely, Nicoly, Francisco
Lucas... Lá em cima, Victor Guilherme gritou:
— Professoraaaaa! Vem ver
isso!
Na
sala do segundo andar, havia uma caixa de madeira trancada com um cadeado
enferrujado. Um bilhete colado na tampa dizia: "Nem todos que entram
conseguem sair.
A primeira chave é ver com o que os olhos não veem." Ao lado da caixa, Felipe,
com os cachos quase tampando os olhos, encontrou um livro antigo, com páginas
dobradas e uma rosa desenhada à mão. Dentro, havia um novo bilhete, com letra
fina: “Só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível aos olhos. Qual é o livro que ensina isso?”
Andreza
olhou desconfiada.
—
Isso é de alguma história... não é?
Elisabeth
leu o bilhete em silêncio. Aquilo não era uma brincadeira qualquer. Na
contracapa, em letra desbotada, alguém havia escrito: “Pra quem um dia quiser
me entender.”
CAPÍTULO 2 – A cicatriz escondida
A
resposta veio de Luana, quase ao mesmo tempo que Pedro Felipe:
—
O essencial é invisível... É aquele livro do menino e da rosa, né?
Elisabeth assentiu em silêncio. Quando a resposta certa foi dita em voz alta, o
cadeado da caixa fez um clique seco.
Dentro
havia apenas um envelope com a palavra “VERDADE” escrita em
letras vermelhas e um objeto esquisito: um óculos redondo com uma
haste quebrada, que não parecia pertencer a ninguém dali. Marcely
tirou o papel do envelope e leu: “A verdade está escondida sob a cicatriz. Ela
sempre esteve lá, mas ninguém quis ver.”
—
Que tipo de cicatriz? — murmurou Francisco Lucas, olhando para o objeto
com estranheza.
Elisabeth pegou o bilhete das mãos de Marcely. Do outro lado da folha, algo
rabiscado a lápis:
“Um menino
sobreviveu ao que deveria matá-lo. Sua história é feita de magia, dor e
coragem. Qual livro carrega a sua cicatriz?”
Enquanto
discutiam o enigma, Pitoco Aranha remexia um armário no canto da sala.
Ao abrir uma das gavetas, encontrou uma ficha escolar com o nome Otávio S.,
escrita à mão.
—
Professora, esse aluno aqui... ele estudava com a senhora?
Elisabeth
hesitou, claramente abalada.
—
Eu... Eu me lembro do nome. Acho que sim. Ele era quieto. Lia muito.
Hiago entrou na sala nesse momento, acompanhado por João Lucas.
—
Oi... a gente ouviu a voz de vocês lá embaixo. Tem mais gente vindo.
Felipe, ainda calado, encarava os óculos quebrados com olhos fixos. Lá fora, o
céu escurecia um pouco mais. E ninguém percebeu que, na ficha de Otávio, a
palavra “Transferido” estava rabiscada com força, como se alguém
tentasse escondê-la.
CAPÍTULO 3 – Onde a imaginação se
esconde
Assim
que descobriram a resposta da charada anterior: Harry Potter, um dos armários
da sala em que estavam se abriu sozinho com um rangido. Dentro, havia apenas um
livro velho e encapado com papel pardo, como aqueles usados em bibliotecas
antigas. As bordas das páginas estavam amassadas. No canto da capa, escrito com
caneta azul, lia-se: “Literatura Infantil – Emília e os outros.”
—
Isso aqui era do tempo da escola mesmo — disse Larissa, soprando a poeira.
Pitoco
segurou o livro e o abriu. Lá dentro, havia desenhos feitos à mão, rabiscos
coloridos e frases escritas com letra de criança nas margens. Alguns
personagens estavam desenhados com olhos enormes, outros com o rosto apagado. Michel,
curioso, leu uma frase escrita ao lado de um dos desenhos: “Eles riam, mas não
sabiam com quem brincavam.”
Elisabeth
reconheceu os personagens do livro, mas o que mais chamou atenção foi a última página,
onde havia colado um papel dobrado como envelope. João Lucas abriu com cuidado
e leu em voz alta: “Onde realidade e fantasia moram na mesma casa, onde uma
boneca fala, e o medo não tem idade. Qual é o livro que confunde o real e o
inventado?”
Ronald
apontou para outro desenho, bem ao lado da charada. Era uma árvore com olhos e
boca, e embaixo, uma criança escondida atrás dela. O nome escrito no canto da
ilustração era: Otávio.
—
Foi ele que desenhou isso tudo? — perguntou Maria Eduarda, num sussurro.
—
Parece mais um pedido de socorro do que um passatempo — murmurou Elisabeth.
De
repente, uma das carteiras do fundo rangeu sozinha, como se alguém tivesse
acabado de levantar. Todos se viraram ao mesmo tempo. Mas a sala estava vazia.
CAPÍTULO 4 – A Luz que se Esconde
A
carteira rangeu. Todos se viraram. A sala estava vazia. Sobre uma mesa próxima
à janela, onde antes havia apenas pó, agora havia um livro coberto com pano
preto. Elisabeth se aproximou em silêncio.
—
Sítio do Picapau Amarelo — disse Luana, quebrando o silêncio.
—
Só podia ser — completou Ketylli. — Onde a imaginação mora junto com o real.
Na
mesma hora, uma lâmpada estalou e se apagou. Elisabeth não hesitou:
—
Vamos sair dessa sala.
No
corredor, Francisco Lucas apontou para uma porta entreaberta.
—
Biblioteca.
A
sala era úmida, quase escura. Uma estante no fundo guardava um livro com um
morcego desenhado à mão. Murilo comentou:
—
Cara... isso tá com cheiro de vampiro.
Raquel
encontrou o envelope: “Me escondo da luz. Tenho sede que ninguém vê. Vivo entre
páginas esquecidas. Quem sou eu?” Na contracapa, uma cópia de boletim escolar: Otávio
dos Santos. Anotação à caneta: "Aluno isolado. Comportamento
estranho." Francinaldo murmurou:
—
Tentaram apagar a parte da transferência...
De
repente, a lanterna de Andreza falhou. Quando voltou, havia uma frase no
quadro: “Não era sangue. Era silêncio.” Pedro Lucas engoliu seco.
—
Isso apareceu agora.
Elisabeth
não disse nada.
Mas
todos sabiam que Otávio estava mais próximo do que nunca.
CAPÍTULO 5 – A Regra é Sobreviver
A
frase no quadro ainda vibrava no silêncio: “Não era sangue. Era silêncio.” Ninguém
se movia. A biblioteca parecia respirar, o ar se tornava mais pesado. Felipe
recuou um passo, os olhos atentos aos cantos escuros. Murilo se aproximou dele,
os dois estavam mais próximos do que nunca. De repente, vozes vindas do térreo.
—
Professoraaaa! — gritou Victor Gabriel, puxando Andriel pelo braço.
—
A gente esperou... mas ninguém voltava! — ofegava.
—
Eu falei que isso ia dar ruim — murmurou Andriel, sempre atrás de Victor.
Logo
surgiram outros: Antonio, Everton, Francisco Matheus, Kaio, Ketilly Beatriz,
Marcos, Renan e Lara. Rostos pálidos, mãos trêmulas.
—
Que bom que vieram — disse Elisabeth, firme. — Agora, ninguém se separa mais.
Felipe
reparou em algo entre os livros caídos. Abaixou-se e puxou uma pequena caixa de
madeira azul, com uma fechadura simples. No topo, um botão preto e, ao lado,
uma pequena chave costurada num pedaço de boneca de pano. Raquel encontrou o
bilhete preso à boneca. Leu em voz alta: "Atrás da porta, os olhos
sorriem, Mas não são os que você conhece. Do outro lado, tudo é igual — só que
errado. Qual o livro que ensina que nem toda casa é lar?"
—
Essa boneca é esquisita demais — comentou Ketilly Beatriz, encolhendo-se.
—
É dele — disse Felipe de repente, apontando para o bilhete. — Do Otávio. Ele
quer que a gente saiba o que ele viu. A ficha de Otávio, caída no chão, agora
mostrava outra anotação antes apagada:
"Aluno transferido por comportamento incompatível com a realidade." Francisco
Matheus olhou para o teto.
—
Espera... vocês ouviram?
Um
rangido. O teto parecia ceder — uma rachadura se formava bem acima da cabeça de
Felipe. Ele puxou Murilo com força para o lado. Um pedaço de gesso caiu onde
estavam segundos antes.
—
Tem alguma coisa viva nessa escola... — murmurou Hiago.
E
no fundo da sala, uma nova frase apareceu no vidro embaçado da janela: “A regra
é sobreviver.” Felipe sentiu o coração acelerar. Ele não sabia exatamente o que
Otávio queria, mas uma coisa era certa: não era apenas um jogo. Era um aviso.
A
janela ainda tremia com a mensagem que surgira: “A regra é sobreviver.” Murilo
apertou o braço de Felipe. A tensão era tanta que o silêncio parecia gritar.
—
Coraline — murmurou Felipe, quase sem voz. — O livro da casa estranha, a
boneca, o outro mundo…
No
mesmo instante, a caixa se abriu sozinha, soltando um estalo seco. Lá dentro,
uma ficha escolar rasgada, com o nome de Otávio, e uma frase escrita em letras
miúdas: “Ele tentou contar... mas ninguém quis ouvir.”
Antes
que pudessem reagir, o teto acima deles rangeu forte. Um pedaço de madeira caiu
a centímetros de Elisabeth. E então, com um barulho ensurdecedor, a escada
desabou. Pó, gritos e o caos.
Quando
tudo se acalmou, um buraco separava os andares. Felipe e Murilo haviam ficado
presos lá em cima.
—
Felipe?! Murilo?! — gritou Elisabeth, ofegante. — Estão bem?
—
Estamos! — respondeu Murilo, tossindo. — Mas a escada caiu… não tem como
descer!
Andriel
apareceu ao lado de Victor Gabriel, sujo de poeira.
—
Eu avisei! Isso aqui é pegadinha do malandro com toque de terror.
Vitor
Gabriel revirou os olhos.
—
Foca, Andriel. Tem gente presa lá em cima!
Enquanto
os outros tentavam encontrar um jeito de subir, Felipe vasculhava a sala. Atrás
de uma cortina rasgada, encontrou um velho caderno escondido num buraco na
parede. Dentro, um bilhete em papel amarelado: “Me tiraram da sala. Depois, me
esconderam da escola. Minha voz sumiu dos corredores, mas ainda ecoa nas
páginas. Qual é o livro que grita sem fazer barulho?” Felipe olhou para Murilo.
—
Isso é sobre o Otávio. Ele foi silenciado.
Murilo
respondeu baixinho:
—
Como a menina que escreveu escondida… Anne Frank.
Felipe
assentiu. No mesmo instante, uma fresta se abriu entre duas estantes, revelando
um túnel estreito de tijolos úmidos. Felipe respirou fundo. Não era coragem.
Era sobrevivência.
—
Vamos.
E
os dois seguiram pelo túnel escuro, enquanto, lá embaixo, o restante da turma
procurava desesperadamente uma forma de trazê-los de volta.
CAPÍTULO 7
– A Porta Escondida no Frio
Felipe
e Murilo avançaram pelo túnel estreito, o som abafado dos colegas ficando para
trás. Felipe segurava firme o caderno de Otávio, onde, na última página, estava
escrito à mão: “Só me leram quando já era tarde.”
—
O Diário de Anne Frank — murmurou.
Murilo assentiu, os olhos
fixos na escuridão. — Ele quer que a gente veja. Que a gente sinta o que ele
sentiu. De repente, a passagem terminou numa sala redonda, com teto baixo e
paredes cobertas por armários antigos. No centro, uma velha cômoda com um
espelho embaçado. Mas o espelho não refletia.
—
Isso não é vidro... é gelo — murmurou Murilo, tocando com cuidado.
Então,
atrás da cômoda, uma fresta se abriu lentamente. Era uma porta, antes
disfarçada como parede. Na madeira, uma inscrição antiga, entalhada com pontas
de compasso: “Só atravessa quem não teme o frio. Só encontra quem já se perdeu.
Qual livro fala de reinos escondidos e de uma guerra que começa com neve?” Felipe
tocou o trinco.
—
As Crônicas de Nárnia.
Ao
dizer isso, um vento gelado escapou da fresta, e a porta rangeu, abrindo-se
lentamente para revelar uma sala escura, com cristais de gelo nos cantos do
teto e um guarda-roupa de madeira maciça no centro.
Enquanto
isso, no andar de baixo, Elisabeth reunia os alunos. Ketylli puxava Maria
Eduarda, tentando confortá-la. Kaio falava com João Lucas sobre o barulho
estranho vindo das paredes. E Andriel, com seu jeito peculiar, exclamou:
—
Eu só queria um recreio e me meti numa Crônica do Gelo e do Terror! Isso é
castigo porque falei mal da merenda. Vitor Gabriel sorriu sem graça.
—
Foca, Andriel. Eles estão lá em cima. A gente vai achar outro jeito de
alcançar. Mas antes que encontrassem uma escada ou corda, a luz piscou. Um som
metálico ecoou entre as paredes. E no quadro negro apareceu, escrito em letra
torta: “Se eles entrarem, vocês não saem.”
CAPÍTULO 8
– O Caminho de Tijolos Quebrados
Felipe
e Murilo atravessaram a porta gelada e entraram numa sala iluminada por uma luz
dourada fraca, como um sol cansado. No centro, um guarda-roupa antigo. Eles se
entreolharam. Felipe respirou fundo e abriu.
Ao
invés de roupas, havia um corredor. O chão era feito de pedras amarelas
rachadas, formando uma trilha sinuosa. Ao fundo, entre as árvores secas, uma
silhueta de espantalho balançava no vento. Um homem de lata parecia cair aos
pedaços encostado num muro, e, ao lado, uma figura felina observava tudo — um
leão abatido, com olhos de criança assustada.
No
chão, entre as pedras, um envelope amassado. Felipe o pegou. Murilo leu: “Procurei
por um coração, um cérebro, uma coragem. Mas só encontrei desilusão. Qual o
livro onde o caminho é dourado,
mas o fim nunca é como se imagina?” Felipe, com a voz baixa, respondeu:
—
O Mágico de Oz.
Nesse
instante, as árvores se moveram levemente, como se estivessem escutando. Uma
rajada de vento empurrou os dois para frente. O corredor começou a fechar atrás
deles.
—
A gente tem que continuar — disse Felipe, segurando o caderno com força.
No
andar de baixo, Victor Gabriel tentava organizar os outros. Andriel puxou um
cabo da parede e gritou:
—
Alguém achou a tomada do além? Que fique claro: eu não entro em guarda-roupa
nenhum. Já me basta a realidade. Elisabeth examinava uma escada lateral, mas a
estrutura parecia instável.
—
Vamos dar um jeito de subir — disse, olhando para cima. — Eles estão em perigo.
Enquanto
isso, Felipe e Murilo seguiam pelo caminho dourado em ruínas, sem saber se
estavam indo para casa... ou mais fundo no mundo de Otávio.
CAPÍTULO 9 – O Último Espelho
O
caminho dourado terminou abruptamente diante de uma parede de espelhos
quebrados. Felipe parou. Os estilhaços refletiam versões distorcidas dele mesmo
— mais jovem, mais velho, assustado, zangado. Murilo, ofegante ao seu lado,
murmurou:
—
Parece um quebra-cabeça de quem a gente é… ou foi.
No
centro da parede, um espelho inteiro os esperava. Nele, não havia reflexo.
Apenas uma frase: “Se você não sabe quem é, como saber pra onde ir? Qual livro
transforma tudo em absurdo, quando o mundo deixa de fazer sentido?” Felipe
sussurrou:
—
Alice no País das Maravilhas.
Com
a resposta, o espelho brilhou. Nele surgiu uma imagem: Otávio, pequeno, sentado
numa sala vazia, escrevendo. Atrás dele, uma professora explicava algo para uma
turma que não o olhava. Ninguém o notava. Murilo apertou o braço de Felipe.
—
Era isso... Ele só queria ser ouvido.
O
espelho começou a rachar. Felipe abriu o caderno e viu a própria frase escrita
de novo, com a letra trêmula de antes: “Você é mais forte do que pensa. A
dor não apaga quem você é.” Ele respirou fundo e deu um passo à frente.
Tocou o espelho.
Lá
fora, Elisabeth e os outros conseguiam subir por uma escada de serviço
improvisada. Quando encontraram a porta dourada, tudo estava em silêncio. A
sala vazia. Só havia o caderno de Felipe no chão — e a boneca de pano com a
chave costurada no peito. Mas então ouviram passos.
Felipe
surgiu com Murilo, ofegantes, sujos de poeira e tinta velha, mas vivos.
—
A gente voltou — disse Murilo, quase chorando.
Felipe
olhou ao redor, viu todos e completou:
—
E trouxe com a gente o que Otávio queria que fosse lembrado.
Elisabeth
abraçou os dois. Atrás deles, o espelho se apagava lentamente. E no vidro
empoeirado, uma última frase surgiu: "A imaginação pode salvar o que a realidade
esqueceu."
CAPÍTULO 10 – As Coisas que Trazemos de Volta
O
sol da manhã atravessava as janelas da escola, filtrando a poeira do tempo. O
corredor parecia comum, como sempre fora. As paredes pintadas, o chão gasto, os
murais de trabalhos antigos. Mas nada parecia igual.
Felipe
passou pela porta da sala, com o caderno apertado contra o peito. Olhou ao
redor. Mesas, cadeiras, lousa. Tudo no lugar. Mas era como se ele enxergasse o
mundo com uma lente nova. Murilo se sentou ao seu lado, em silêncio, como se
não quisesse quebrar o que sentiam.
Elisabeth
entrou logo depois. Não disse nada. Apenas sorriu. Era a primeira aula após
tudo. Andriel chegou reclamando de dor na perna, dizendo que deveria receber um
prêmio por “sobrevivência escolar avançada”.
—
Eu vi um vampiro, fui congelado e ainda encarei um espelho que sabia demais.
Mereço descanso e biscoitos vitalícios — disse, arrancando um riso tímido da
turma. Vitor Gabriel respondeu:
—
Vai contar isso pra Irinalva? “A gente faltou porque caiu um teto e um espelho
falou com a gente...” — Não!
Vou só dizer que a biblioteca tava em reforma e eu ajudei — piscou Andriel.
A
risada geral veio leve, como quem reaprende a respirar.
Yuri,
Maria Clara, Hiago, Ewerton e todos foram chegando. Alguns calados, outros mais
agitados. Mas todos, de alguma forma, diferentes. Como se tivessem crescido
semanas dentro de um só dia.
Felipe
abriu o caderno. Na última página, escreveu devagar: “Não sei o que foi verdade
e o que foi invenção. Mas sei o que senti. E isso é real o bastante.”
Do
lado de fora, a escola velha estava vazia. Silenciosa. Mas uma janela do
segundo andar ficou entreaberta. Uma boneca de pano estava sentada no
parapeito, balançando levemente com o vento. Como um sussurro. Como uma
lembrança que escolheu permanecer.